Só pra variar, acordei por volta
das 5:15 da madruga. Mesmo sem termos conseguido ir até as Jacuzzis ou escalar
o Maverick, mas confesso que estou plenamente satisfeito com tudo que
presenciei aqui nesta expedição, satisfeito pelas pessoas que conheci, espero
que essas novas amizades cresçam e que possamos nos reunir para novas aventuras
no futuro e também pela nossa equipe técnica, nosso guia, cozinheiros e
carregadores. Todos formamos uma família durante esses dias e isso não se apagará
da minha memória. Não tem preço o trabalho que esses caras tem para que
possamos completar a expedição, carregando por vezes quase 30kg de equipamentos
e comidas, e sempre com um sorriso no rosto para nos atender.
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Teodoro. |
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José "Tcheo" |
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Dida, Gulherme Asta e Tirso, "El Cocinero Roraimero" |
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Simon |
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Simon, Dionísio, Tcheo, Fred e Teodoro. |
Temos muita saudade de casa, mas
ainda falta uma parte que começa hoje e termina amanhã, que é muito chata,
afinal estamos indo embora, mas também merece muito mais atenção, como em
qualquer viagem: A volta. Não podemos nos dar ao luxo de uma desatenção, temos
que manter a mesma pegada dos dias de subida, pois uma simples torção na
descida também pode causar problemas e geralmente na volta é que acontecem os
acidentes.
Serão dois dias para chegarmos
até Paraitepuy e de lá pra Boa Vista. Hotel, banho quente, perfume, sabonete,
roupas limpas. É impressionante, mas até esse momento nenhum de nós tinha
sentido falta da tecnologia, celulares, notebooks e afins.
Já combinamos que jantaremos
todos juntos em Boa Vista como uma confraternização e pra nos despedirmos de
nossos amigos de Minas Gerais que vão chegar em Boa Vista e embarcam no mesmo
dia.Depois disso terei 3 dias na
cidade pra comprar lembranças pra todo mundo, cachaça local, etc.
Bom, mas agora é descida, mochila
pronta, café da manhã tomado, vamos rumo a despedida dos três guardiões do Tepuy
e ladeira abaixo para o campo base. Com muita neblina no começo, mal dava pra
enxergar os parceiros à frente, e assim fomos até passar o Passo das Lágrimas.
Depois o tempo abriu e no caminho passamos por outras expedições subindo,
gringos, todos muito cansados, acho que eles pensaram que seria muito fácil.
Coitados, vão sofrer bastante. Com bastante cuidado descemos, sempre los três
amigos juntos: Eu e o irmãos Guilherme e Eduardo Asta.
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Não faltam locais com água potável na trilha. |
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Passo das lágrimas: Não é assim tão hardcore. |
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Mas é alto pra caramba. |
Primeira parte da missão
cumprida, chegamos ao campo base, onde peguei de volta os 3 kg que deixei ali
pois não ia precisar no topo. Levei coisas demais, e agora estaria de volta com
16kg. Após o almoço, um momento de apreensão: todos estavam no campo base,
exceto Léo e Carmen. Ela veio o tempo todo acompanhando nosso guia. Após alguns
minutos de espera, Eu e Eduardo Asta decidimos pegar a trilha de volta, talvez
eles precisassem de ajuda pra descer, pois Léo sofria com as dores nas costas.
Os encontramos tomando água logo na primeira bica, constatamos que tudo estava
bem, voltamos ao acampamento e decidimos continuar a descida, já que o gás
estava bom ainda. E lá fomos nós.
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A chuva veio forte... |
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... E o Monte foi sumindo. |
Após mais ou menos 1 hora de
caminhada, começou uma chuvinha leve. Olhamos para trás e o paredão estava
sumindo na neblina, a chuvinha parou por uns 10 segundos e então o céu
despencou sobre nossas cabeças. Depois de tantos dias de tempo bom, Macunaina
nos brindou com uma chuva, desta forma, experimentaríamos todos os climas da
região. A chuva nos acompanhou até o Rio Kukenán, onde tive que tirar a mochila,
pegar meu kit banheiro e dar um jeito no mato mesmo. Me abaixei atrás de uma
pedra e mandei bala, sem dó. Era isso ou minha caminhada ficaria complicada.
Serviço feito, atravessamos o rio e seguimos até o Rio Ték, onde fomos
recebidos pelos índios com uma deliciosa cerveja gelada. Brindamos e tomamos
algumas, depois desci para tomar banho, mesmo com a água meio turva pela chuva.
No retorno do rio, mais cerveja e o jantar, macarrão com molho branco e a
deliciosa pimenta do índio Teodoro.
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Depois de tanto andar, qualquer cerveja desceria redonda. |
Amanhã estarei de volta a
civilização. Aqui no Rio Ték tem expedições que estão indo para o topo.
Coitados. Conhecemos um grupo formado por 2 amigas japonesas, uma delas
radicada no braZil e falando um pouco de português e um casal formado por um
carioca e uma garota de Brasília. Aqui cabe um parênteses na história.
Existem pessoas que são contra
viajar com operadoras, pois muitas vezes as operadoras exploram a mão de obra
local, etc., esse grupo veio com uma operadora de Santa Helena e, sinceramente,
me senti imensamente feliz por ter conhecido Magno Souza, Carla Sevalhos e a
equipe da Roraima Adventures, pois em momento algum faltou para o nosso grupo
qualquer tipo de informação sobre o que precisaríamos ou não. Quem levou coisas
com sobra, como eu, paciência, dei meu jeito e completei a expedição. Mas esse
grupo, não sei por qual operadora estão indo para o topo, mas na boa, eles não
tinham nenhum remédio de uso pessoal, nem mesmo a boa e velha aspirina, nada,
nem analgésico, nem bandaid, nem antisséptico, literalmente nada, nem uma barra
energética, nem em gel. Não faltou comida pra gente, pra nenhum de nós, mas
ainda assim cada um levou uma barra, um repositor qualquer. O casal braZileiro
tinha uma única bateria na câmera, vão ficar sem muitas fotos. A japonesinha
radicada no nosso país também não tinha absolutamente nada, só comprou um
remédio para diarreia, e pior: ela tirou as meias e já no primeiro dia de
caminhada estava com duas mega bolhas bem na junção do dedão dos dois pés. E
não tinha nada para dar um jeito. Resolvemos que como tinha sobrado muita coisa
para todos, cedemos para esse pessoal parte de nossos remédios e auxiliamos a
japonesinha com suas bolhas, espero que ela tenha conseguido sem sofrer muito,
pois além de serem muito legais, ela também era Corinthiana. Mas existem ainda
operadoras que vendem o pacote e te levam, mas que não te dão informações
básicas sobre o que se pode precisar ou não.
Vale lembrar que nem todo mundo
que se mete a fazer uma parada dessas tem experiência em trekking. Graças a
Deus nosso grupo é bem experiente em vários tipos de trekking e terrenos, como
Patagônia, Santiago de Compostela, Serra do mar paulista, Exército, Serra fina,
Agulhas negras, Conceição do Ibitipoca, Chapada Diamantina, etc. Então formamos
um grupo que se ajudava o tempo todo. E por isso acho que fizemos a escolha
certa ao optar por ir com a Roraima Adventures, uma empresa séria que se
compromete com as pessoas e cumpre o que promete. Magno Souza cia fazem um
trabalho notável e literalmente tiram leite de pedra para fazer o turismo
acontecer. Mas falemos disso mais tarde, ainda estou em Paraitepuy.
A Expedição Monte Roraima Outubro
de 2012 foi um sucesso, voltamos todos inteiros até aqui, superamos, pelo menos
eu superei vários limites, conheci boas pessoas, enfim, foi um sucesso. O que
sobra é que independente de quem, se índios, operadoras ou o governo seja de
que estado for, este lugar deve ser preservado com todas as forças que essas
pessoas tem, pois este lugar é mágico demais, as futuras gerações tem que conhecer
este lugar, pelo menos saber que ele existe e que é possível chegar lá, basta
querer.
Que Macunaima ajude os nativos a
preservar essa terra repleta de riquezas.
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A última lua da expedição. |
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